Porque era ele, porque era eu
Acordou mais cedo que de costume e tomou o raro banho pré-trabalho. O hábito é banhar antes de dormir porque esses 10, 15 minutos de sono sempre fizeram falta. Aquela apertada a mais no botão soneca que representa toda a diferença. Hoje não. Hoje deu vontade de tomar banho pra limpar o sono.
Não conhecia poemas nem muitas palavras belas
Ônibus, ponto, café, e-mail, impressões, respostas automáticas, chocolate suíço, mais e-mails, sala do chefe, conversa, cerveja do fim do dia. Eram mais de 10 quando lembrou de ligar a internet no telefone e dar aquele bom dia em rede social.
Mas ele foi me levando pela mão
Um cheiro – ele mais eu porque eu e ele -, uma lembrança. Ah, que bom que seria. Arrepio. E-mails, eles nunca param de chegar. A tela do celular acende. Um convite. Um endereço. Uma proposta desavergonhada, mas na Austrália o já horário permite. Aliás, dane-se o horário que esse tipo de coisa nunca teve hora certa. Sim! Mil e todas as vezes sim!
Íamos todos os dois assim ao léu
Em Brasília, 12 horas. Dois quarteirões no sol. Interfone, elevador, campainha, frio na barriga. Não era amor, nem cilada, nem precisa de definição. Era, apenas. Sei que o que tinha que se dar se deu. O gosto, o som, o toque, o tremor. O calor que dá frio incendiando. O olho no relógio. As risadas nem tão roubadas assim. O ardor. A calma.
Hoje lembrando-me dele me vendo nos olhos dele
O resto do dia foi corrido e atarefado. Que bom. Quaisquer cinco minutos de calma a denunciariam. E não era um romance o que vivia. Não era amizade colorida. Não era uma esperança bêbabda. Não tinha um nome e sequer pedia um. Era os suspiros furtivos, o cheiro do sabonete desconhecido, a fugida na hora do almoço, a mordida inesperada nos quadris, o puxão de cabelo e o elogio vulgar. Somente era. E isso bastava.
Porque era ele. Porque era eu.